30.11.05

Do tempo
em que ainda eras
uma página branca entre tantas outras
anotaste olhos
fascinado pela sua poderosa transcendência.
Mil olhares passados
outra pequena nota
inscreve-se na página amarelecida
olhos são mares em que me lanço sem rede
e sem reserva.

"os teus olhos são como mares"

29.11.05




"mira mira-te mira-me"
A minha dispersão usa a poesia
para se condensar em discurso
claro;
em proporcionar ao espaço dos amantes
uma plataforma límpida
o quotidiano direcciona-se
à revolução possivel;
a volupia surge como a onda
transfiguradora
accionada pelo prazer do rodopio
dentro de ti dentro de mim.

"olhos nos olhos"

28.11.05

Apropriaram-se de ti
e ainda bem
permitires
que os olhos
se partilhem
de sorte
de prazer
de ingenuidade.

Ainda bem que senhor
não te tenha como escrava
luz que se não deixa agarrar.

A transparência
esvai-se
o caminho é outro
e os segredos
o discurso
a amoralidade
perder-se-ão no lodo.

"predadores"

27.11.05

Dos olhos
as perspectivas abrem-se

olhos que se enchem de água
invertem as perspectivas

da negatividade e da dúvida
de dentro
lá de dentro
das águas que me miram

turva e nítida

expande-se em mim a vontade e a certeza
da mudança próxima.

"(hoje) estou em ti e redescubro as paixões"
Quebramos os sonhos
juntos
assim o desejamos
no sublime e no detalhe
na impossibilidade de partilhar mais
do que a construção de caixas
o mar tão próximo
o prado onde o pónei cego nos mira em faz de conta
mas o nosso riso é saudável
vem de dentro do prazer das coisas simples
e dos sonhos do aqui e agora;
e não nos limitamos aos nossos olhares lascivos
vamos para lá deles
na partilha dos sonhos que quebramos
porque tem de ser.

"I don't understand why people insist in giving me things...!"


Merci bien Janna Stern for the brokendreams
Ontem adormeci em ti
adornei-te o corpo
de desenhos
as tintas que me pediste antes
o brilho de teus olhos
o teu corpo esguio
e essa intemporalidade caçadora de segredos
dos meus medos
da minha virtuosidade

e hoje acordei em ti
e brinquei com o meu corpo
barbeei-me
em duche longo em cantoria
e o brilho dos teus olhos
encheu de energia
e desejo
este novo dia.

"que bom este velho gosto"

26.11.05

Comentas em desespero
o interior para o outro
e sabes que assinas
o livro da morte
da morte lenta, eficaz e necessária;
é a inadequação ao lugar dado
a inoperabilidade do sentido critico que desnorta
o calendário
a motivação essencial.
Apenas desisto
apenas me maquilho de intemporalidades não sentidas
movido sem movimento
retrocedido
introvertido num tolhimento tão mais concêntrico.

As cores são sistemas que já não uso
rebentado
excruciantes verdades afloram,
a impureza toda junta
provoca um cancro buraco pestilento irremediavelmente acabado.

"sei que te quero e não quero"

25.11.05

Eram estorias de um envolvimento quase
electrico; um milhao de evolucoes que prendiam
em ritmo voltaico os espacos em redor.
Era tambem um tempo em que as luas
volteavam em sombras o movimento nocturno
de algumas criaturas.

Era por esses tempos que me ouvia assobiar
num estranho contentamento.
Nada perfazia um azul marinho que nao
buscava mais que a satisfacao imediata.
Tempos de uma certa letargia que ao mesmo tempo
avancava devagar;
tempos suaves que nao olvidavam aliteracoes de constantes fluidos.

Redondel disperso. Sem as portas das relacoes dificeis
ou as janelas de relacoes a construir.
Miriades passavam e azul o mar
augurava milhares de estrelas de sorte.

Eramos muitos
abracados em um silencio
que ouviamos
um assobiar tao dentro que nos ultrapassava.

Azul o mar e azul o ceu.
Tanto poderiamos ser em festejos um so
ou em enterro tantos.

Verde era uma cor imaginavel.
Nunca presente fisicamente,
-nem implicitamente desejada-
mas que volteava assim como que uma aura.

Verde que significaria
os sorrisos interiors que imaginavamos
ao ouvir o som
dos nossos cantares secretos.

"E de repente tudo se torna repetitivo"
desviado daqui

24.11.05

Tracei um plano:
escolhi as cores
e um discurso cinzento, cizudo
para contrabalançar a alegria dos arredores

acontece que as trovas definham
mesmo ao passar o alce
castanho pelo parque a hora de perguntas

clareias
e animas o ar com a decisão que porventura
não é a definitiva

mas do sentido das coisas decididas
sei que não consigo parar o trânsito
na minha mente

"ela é tão sofiscada!"


I chose the road less traveled -- now I'm really lost.
Howard Hoffman ... On Life


"que bom perder-me em ti"
Descubro com contentamento
a leveza,
misto de filosofia politica
praxis
e pobreza,
e sinto-me feliz por
-a todo o momento-
poder ser nómada,
peregrino em mil lugares
visitante de mil sonhos
amante milésimo
como as mil palavras que uso
e brinco.

"sinni"

23.11.05

Consigo-te explicar a minha inércia
mas não tenciono
marchar em terreno movediço.
O desejo enquadra-se perfeito
no teu corpo altivo
princesa que me queres crer.
Não te tomo o corpo
como chá verde -
existes como infusão antiga e refinada,
um gosto que se suspende do abismo.
E sabes que o teu exotismo
me agrada
me agarra sem nexo aos teus sentidos.

"porque me visita agora o pássaro fugido?"

22.11.05

Apetece ao lúdico
relembrar as viagens
pelos mares
de longas e sedosas barbatanas,
peixe
num jarro azul imenso,
derramando pelos jardins
o seu indomável espirito -
qual flor
rosa enorme ,
de odor intenso,
tão caprichosa e onirica.

"quase plagios que em sonhos se estiram"
E de repente apetece escrever
o espaço vazio
tanta teoria
dada ao ar
que a manhã vai trazer mais surpresas
se à noite se roubar o sentido

"ecco!"
Alguma coisa tem de renascer
do inferno
da não existência;

ainda ontem quando pelos ares atravessava toda esta distância
mirei na curva ao fundo
o cais bravio

não eras mais a minha preferida,
aparecias já pedra fumegante
obturada pelas larvas da mudança rápida

agora e aqui
envio-te a gargalhada
o rodopio frenético
e quente
que nos desejamos

sejamos pois nómadas do prazer
e encontremo-nos noutra galera
em cais cheiroso e colorido.

"vamos dançar uma outra dança"
O direito a preguiça surge da inevitabilidade
da tua ausência;
sem teu gosto forte
teus labios carmim
teu corpo insidioso em pulsão fremente
resto
quedo e mudo no canto das orgias projectadas.

"urgência"

21.11.05

Tantas são as coisas
que nos comprimem os sonhos
e os desatam
e os reviram
tanto
é o meu desejo de ti
tantos sonhos revirados
tantas coisas desatadas
em azuis e amarelos
em manchas alaranjadas de final de dia.

"escapatória"
nada confunde mais que a tua lua
escapada e confiante
usando linguagem antiga de barreiras diluídas;

quando tento traçar no ar o teu regaço
sinto uma quentura intensa de entrega a outros;

sorrio no entanto
e passeio pelas grandes avenidas da Paris que amo,
um cacho de uvas frescas na mão esquerda
na linha de uma nova amante
para os lados do Tcha Tcha Tcha du Tango;

se me ignoras e te reencontras nos braços dos teus amantes
perspectivas outras me trazem os regaços das minhas novas amantes.

"belle de jour"

19.11.05

na contra mão
acentuada pelo contraste da luz em divagados contentores,
os olhos em pergunta constante
de desejo?...
de interrogação como se nada fora ontem
e apenas o aqui se entende?...

e na outra mão, nos corredores claros das estações
para outras margens,
o silêncio preenche o espaço dos olhos que se miram
em perguntas proibidas.

a ausência do outro
nem é o outro mas o preenchimento com outra realidade.

"na dinamarca em open weekend"

13.11.05

Dou
sem reservas conduzindo
a vida em condensada estoria de dez minutos
de cada vez

e eles recebem
em sorriso
toda a vida condensada em dez minutos
de toda a vez

e na pizzeria
os estomagos enchem-se de risos
uma cumplicidade
de meninos e seu mestre
grande - porque tem de ser

e nos dias que se seguem
o fio de estorias so minhas
provoca
um fio de estorias que e so deles
e a cumplicidade
cresce
e o desejo cresce.

"a vida condensada em dez minutos"

3.11.05

vais bonita
interrogada como sinto a outra
faltas
e segregando te irei reencontrar na praia quente
o teu sorriso bonita
passaporte para a novidade de seres
como tu sem esperas
apenas som
a musica
o olhar imaginario como a outra
a azulada sinfonia das mares enchendo e vazando
nos corpos

"a despedida"